nas paredes as crianças choram
é horário de pico
de movimento no posto
os ruídos proliferam
o passo aperta
a criança chora
— o adulto também
a máscara molha
o pátio de espera enche
o distanciamento segue
é horário de pico
de movimento no posto
os corredores barulham
portas a abrir e fechar
e um choro estridente
ressoa da vacinação
um soluço abafado
choro adulto
diferente
vem do consultório ao lado
atravessando a parede
é horário de pico
de movimento no posto
sons de fora também entram
ao longe ou
bem mais perto do que gostaríamos
a sirene da ambulância se aproxima
anuncia
as más notícias hoje cotidianas
outrora longínquas
a prevenção e a promoção que no posto se fazia?
sem ter pra onde levar
espera
“vaga liberada”
esperança
quem dera
é horário de pico
de movimento no posto
os ruídos proliferam
o passo aperta
a criança chora
— a gente também
Esse poema foi escrito em abril de 2021 e publicado em 29.10.2022, não coincidentemente, véspera de eleições.
Ele faz parte do projeto intitulado “Pode poesia no posto?”, uma deriva poética num posto de saúde em estado de pandemia, escrita a partir da minha vivência como psicóloga, atuando em Unidade de Saúde da Atenção Básica, no SUS.
Esse projeto virou livro, a ser publicado em breve, pelo Nada: Studio Criativo.
Fazem parte do projeto, também, os seguintes escritos: